Reza a lenda de que todo escalador deve ter sempre um cordelete na cintura. Cordeletes são cordas auxiliares mais finas, utilizadas em uma série de ocasiões e possibilidades na escalada, desde montar uma parada, montar o backup no rapel ou fazer ascensão em corda fixa. Mas vale um aviso para os novatos: cordeletes devem ser sempre comprados em lojas especializadas em equipamentos de escalada.
Alguns escaladores chamam o equipamento de cordim, em uma espécie de tradução de “cordino”, que é a denominação espanhola de cordelete. No Brasil, ambas as denominações são consideradas corretas, tendo o seu uso variando de região para região. Lembrando que mais importante do que saber qual termo é o mas correto, é saber usar o equipamento.
Mas por que esta preocupação com o cordelete em lojas de equipamentos outdoor? A preocupação é que o cordelete que é vendido em Lojas Especializadas em Pesca, normalmente é feito de polipropileno. Já os cordeletes para escalada são feitos de poliamida (o mesmo material da corda de escalada). O polipropileno é mais barato, possui menor carga de ruptura e é menos resistente à abrasão. Por isso, um cordelete de polipropileno que serve às necessidades da escalada é necessário um diâmetro bem maior que aquele que conseguimos com poliamida.
Na escalada, em geral, escaladores usam cordeletes (também chamados de cordim) entre 4 e 8 mm, destinados unicamente a suportar cargas, mas não para absorver energia. Ou seja, são utilizados para operações auxiliares (suporte de cargas) e nunca para segurança de um escalador (absorver energia) em uma escalada. A resistência mínima de um cordelete, exigida pelo UIAA depende unicamente do diâmetro, nem tanto do material. Este valor pode ser facilmente calculado aplicando a seguinte regra:
Rmin = Diâmetro x Diâmetro x 20 Onde Rmin: Resistência Mínima (expresso em daN – decaNewton) 1 daN = aproximadamente 1 kg Diâmetro: Diâmetro do cordelete em milímetros
Lembrando que quando é feito um loop, fechado com o nó duplo pescador, ele reduz aproximadamente 30 a 35% da resistência do cordelete.
Mais recentemente (de aproximadamente 15 anos para cá), estão sendo comercializados cordeletes de Dyneema e Kevlar, duas fibras sintéticas de alta resistência que vêm sendo adotadas no universo outdoor amplamente.
Kevlar é a marca registrada da DuPont para uma fibra sintética de aramida muito resistente e leve. Trata-se de um polímero resistente ao calor e cinco vezes mais resistente que o aço por unidade de peso. Portanto, aramida e Kevlar são as mesmas coisas. Sendo Kevlar um nome comercial do material. Dyneema é um polietileno de ultra alto peso molecular e também é o nome comercial de uma fibra sintética, inventada há 20 anos pela empresa DSM Dyneema. A fibra é extremamente resistente, possui um peso mínimo e várias aplicações na indústria. De acordo com o fabricante, é 40% mais resistente que a aramida e 15 vezes mais resistente que o aço. Portanto, vale um lembrete: Kevlar e Dyneema não são o mesmo material. Ambas são fibras sintéticas muito mais resistentes que os de poliamida para cordeletes de mesmo diâmetro. Portanto, um cordelete de Kevlar, ou Dyneema, com o mesmo diâmetro que um de poliamida, pode ter até o triplo de sua resistência. Além disso, a temperatura de fusão (derreter) dos cordeletes são muito mais diferentes:
Poliamida: 230°C Kevlar: 260°C Dyneema: 145°C
Por ser altamente frágil em altas temperaturas, o cordelete de Dyneema é proibido em nós como o prussik em rapeis. Isso porque o atrito do cordelete com a corda na descida, poderia queimar e chegar perto do ponto de fusão. Além disso, de acordo com estudos realizados em laboratório, o Dyneema perde metade de sua resistência quando chega a 80°C.
Usualmente, os cordeletes não são muito recomentados para a prática de escalada em rocha.
Além de saber os diâmetros de cordelete e suas resistências, é também imprescindível saber qual a milimetragem mínima de um cordelete para a escalada. Muitos escaladores acabam optando por cordeletes finos, por causa do preço, colocando em risco a própria segurança.
Portanto, cordeletes de 2, 3 e 4 mm não suportam o peso de um escalador. A carga é muito baixa e pode causar acidentes graves. Cordeletes desta milimetragem são ideais para reparações em barracas, pendurar material de escalada, usar como cadarço, cinto, etc. Mas nunca para a escalada.
Cordeletes de 5 e 6 mm, podem ser usados como nós auto-blocantes como Prusik e Marchard. Lembrando que os cordeletes de Dyneema não são recomendados para serem usados em rapel. Caso o cordelete seja de náilon, utilizar somente cordeletes acima de 6 mm. Cordeletes de 5 e 6 mm são desaconselhados para ancoragens, a menos que seja de Kevlar (mas somente em equalizações triplas).
Os cordeletes de 7 e 8 mm são ideais para serem usados em ancoragens (equalização simples).
Os cordeletes de 9 mm são muito grossos e podem ocupar too o espaço de uma chapeleta no caso de uma equalização.